Passados sete meses depois da tragédia que afetou o Rio Grande do Sul, varejistas de autopeças e oficinas mecânicas continuam na batalha para se recuperarem, algumas delas, como já dissemos antes, não conseguiram se manter e fecharam as suas portas.
“o Sincopeças-RS, como entidade representativa, percorre o Estado e mantém contato com entidades parceiras para, assim, acompanhar o pós-catástrofe, principalmente em regiões como o Vale do Taquari, que foi assolado drasticamente. Foi um episódio ímpar e que está exigindo paciência e resiliência. Estamos sentindo a força de vontade para a retomada”, diz Marco Antônio Vieira Machado, presidente do Sincopeças-RS
“A situação das oficinas, na sua grande maioria, está normalizada, dentro de um quadro de pouco apoio das instituições financeiras”, disse Paulo Fernando Paim, presidente do Sindirepa-RS.
Segundo ele, a maioria das oficinas retomou as atividades. “Algumas fecharam no endereço que estavam e abriram em outro endereço, ou estão em processo de abertura. Uma pequena parte não vai retomar as atividades”. O cenário é similar para as autopeças, conforme relatou Machado. “O Sincopeças-RS representa mais de 25 mil CNPJ’s, em 490 municípios do Estado. Levando em consideração que quase todo o território gaúcho foi atingido (o RS possui 497 cidades), porém, com intensidades diferentes, a realidade é diversificada e nem todos os negócios retomaram totalmente suas atividades, mas segue em bom ritmo e passos firmes”.
Ele acrescentou que há muito a avançar. “Passados sete meses da enchente, regiões como o Vale do Taquari ainda não se restabeleceram. Inclusive, na localidade ocorre um debate sobre um novo modelo de ocupação territorial, pois há lugares que não poderão mais ser ocupados. Muitos nem conseguiram voltar a seus prédios físicos e estão atendendo, momentaneamente, em outros endereços, uma parcela está reconstruindo seus espaços de trabalho, outros mudaram de cidade, e ainda há aqueles que não retomarão suas atividades. Além disso, o setor padece de problemas que não são exclusivos do ramo automotivo, como o aumento de juros e, consequentemente, do custo de tomada de capital de giro, comprometimento financeiro das famílias, falta de mão de obra, entre outros”.
Faturamento das oficinas mecânicas
Questionados se as empresas alcançaram a retomada financeira, Machado respondeu: “Visto que houve muito prejuízo em espaços físicos, ferramental e estoques, o empresário inclinou-se a buscar crédito ou outros tipos de aportes que venham a auxiliar neste momento delicado, em prol da recuperação econômica. Mesmo com crédito caro, o faturamento foi retomado aos níveis anteriores à catástrofe, para as empresas que voltaram às atividades. A distribuição ainda sente, no entanto, há falta pontual de itens de estoque”.
E Paim contou que o faturamento das oficinas não foi retomado plenamente. “Até porque, em algumas regiões, os proprietários dos veículos atingidos e que não tinham seguro, não conseguiram comprar outro (prioridade é a moradia) ”, explicou.
Fechamento de oficinas mecânicas
Em relação a quantas oficinas e lojas fecharam suas portas definitivamente, Paim disse que houve uma redução de 2744 (6%) CNPJs no segmento, pelo último levantamento do Sindirepa-RS e acrescentou: “acreditamos que este número será alterado quando da abertura em novo endereço”.
E, de acordo com Machado, “sabemos que algumas empresas não voltaram a operar. O fechamento pode ter como principal motivo a catástrofe, mas, muitas vezes, há mais fatores envolvidos. Não temos estatísticas e os dados da Receita Federal não são conclusivos, pois muitos não registram formalmente o encerramento. Temos, talvez, mais forte do que o encerramento, a migração, fechamento e reabertura em áreas de menor risco, notadamente em cidades com Lajeado, Estrela, Roca Sales e Cruzeiro do Sul, todas do Vale do Taquari”.
Papel das Entidades
O Sincopeças-RS pautou-se em acompanhar o episódio desde os resgates até a recuperação dos negócios e essa demanda continuará no prol das atividades de 2025. “Podemos citar como ações as campanhas de PIX para auxiliar empresas no ápice da catástrofe, a “Adote uma empresa” e a campanha que ainda está ativa “Retomada Automotiva”, que incentiva a doação de peças e ferramentas para os negócios mais atingidos. Foram adquiridos 48 kits da Vonder e entregues como doação para a ARAVAT – Associação dos Reparadores Automotivos do Vale do Taquari, que está fazendo o encaminhamento para as empresas afetadas”, afirmou Machado.
Segundo ele, também foi uma luta do Sindicato o fim do mecanismo de Substituição Tributária, vigente desde o dia 1° de novembro de 2024 e a entidade também fechou Convenções Coletivas de Trabalho emergenciais para auxiliar o setor a manter empregos. “Ainda atuamos, concomitantemente, com a Fecomércio-RS, nas ações que a Federação encabeçou como o “Comércio Solidário” e “Mobília Solidária”, além do trabalho para a retenção e controle de recursos e postergação do pagamento de tributos. O Sincopeças-RS fechou parceria, recentemente, com a Alcides Maya Faculdade e Escola Técnica. Ambas as entidades adotaram, pioneiramente, o projeto gratuito: Reconstrução Digital RS, da ONG Mais RS, voltado a empresas de autopeças afetadas pelas cheias”, concluiu.
Entre as ações do Sindirepa-RS, contou Paim, “o Sindirepa-RS está diuturnamente fazendo ações para colaborar com os atingidos e para todo o segmento. Nós somamos um total de 34800 CNPJs ativos no RS, este é o número de filiados do Sindirepa-RS. Criamos um plano de ação para 2024, o qual está sendo concluído com pleno êxito. Já lançamos o plano de ação 2025, onde prevemos um crescimento de 400% da entidade e, assim sendo, todo o segmento será beneficiado”, finalizou.
